Era pequenina ainda e já brincava com as letras. Gostava de juntá-las e transforma-las em versos de menina. De rimas não sabia, mas sabia que as palavras não eram um ajuntamento de letras. Eram encanto, poesia, prosa...
Monday, July 13, 2009
Poema escrito depois da leitura de "Feridos em Nome de Deus" de Marília de Camargo César" Leitura que recomendo.
Feridos
I Acto
sou como um andarilho.
maltrapilho, busco encontrar
o Caminho por onde andei.
meu coração pulsa no peito acelerado,
atrás do escudo que esconde a cicatriz
e disfarça enquanto junta os pedaços
do eu dilacerado,
que se alimenta esfomeado
da decepção que me corre nas veias.
teia que me prende a uma dor sem nome,
mas que me consome e faz ofuscar
a luz que dantes até me fez voar.
a minha alma transborda à sangue derramado
mas oculto pela incerteza
de quem confiou a vida e o coração
ao homem por Deus designado,
apaixonado por soberana vocação.
que ilusão!
II Acto
sou também um andarilho
maltrapilho, busco encontrar
o Caminho por onde andei.
ultrapassei limites.
pensando que cuidava... centralizei.
confundi poder com unção,
zelo com manipulação... abusei.
meu coração também bate acelerado.
as minhas marcas se prendem a solidão
das sombras que norteiam minha alma,
cansada da minha própria insensatez.
vou peregrino nesta estrada que conheço,
peso meus passos atordoado
por tamanha embriagues.
atrás de mim deixo um púlpito vazio
e o desejo de acertar uma outra vez.
III Acto
ouço o clamor dos teus lábios.
vejo o escudo que esconde a cicatriz
e os pedaços da tua vida,
decepção que incendeia
e semeia dor, ofuscando a minha luz.
olha pra mim...
vejo ainda o teu eu dilacerado
perdido no Caminho que conheces
e a unção guardada num pote aí ao lado
enquanto olhas para traz atarantado
sem ver que a tua frente, há o vazio da minha cruz.
olha pra mim...
levantem do lugar onde caíram
vejam a graça que transborda das minhas veias
teias de amor que acolhem toda dor,
a chave certa pra qualquer encarcerado
perdão completo, boas novas...
vida plena em seu favor.
prestem atenção ao Caminho
tirem as pedras que engessam a sua estrada
partam o pão da comunhão que lhes é dado
bebam do vinho da alegria e celebrem
em cada canto, em cada casa
sou eu em vós... o livramento.
Arlete Castro
10.07.2009
Thursday, July 9, 2009
Poema Baseado na Obra de Sergio Fingermann "Elogio do Silêncio" exposta no Museu Oscar Niemeyer em Curitiba e que tive oportunidade de visitar
Silêncio
Ontem ouvi o silêncio
Ele não dizia palavra
mas dançava...
ao meu redor rodopiava
e soprava-me ao ouvido
um gemido...
Ontem o silêncio bailava
ao som de uma música
que só ele ouvia
e dissipando meus sons
com suas mãos
tocou o compasso
acelerado do peito
e sussurrou-me ao ouvido
aquietai...
Transformou-se num verbo
o silêncio
flutuando entre barulhos reais
calou a voz do tempo apressado
e aos meus apelos fez sinais
E o silêncio sábio
emudeceu a palavra vã
vestiu-se de arte
emoldurou-se
e me encontrou a alma
o meu eu feroz e ocupado
fragmentado
encolhido atrás do peito
mas com vontade de voar
Ontem meu eu dançou com o silêncio
criou asas...
reaprendeu a voar.
Arlete Castro
19.06.2009
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