Surpreende-me este mês. Olho ao redor e vejo o sol a bilhar em toda parte e este ar de descanso no rosto de muitos, que vem com as férias de verão.
As praias por sua vez estão repletas de gente. O mar vai se achegando na encosta, banhando com suas aguas, ora fresquinhas, ora geladas, o corpo e os sonhos da gente. Faz sorrir a criança pequena e ri também de certeza, das peles bronzeadas ao sol, das gordurinhas a vista, do viver em família, dos amores, da solidão e daqueles que estão a andar por ali apenas pelo ganha pão.
Mas não ri como se zombasse. Porque ele já cá anda há tanto tempo, que penso que ele ri como se também brincasse, com esta gente que vem e que vai, aproveitando o calor destes dias efémeros, como suas ondas que vem e que vão.
E porque é Agosto, mês em que tudo fica um pouco vazio, é que olho o vazio que passa despercebido por nós, na correria dos dias, na azáfama de prevalecer, encontrar espaço, fazer…
E vamos, a medida que a correria se estabelece, tentando preencher este vácuo em busca da fonte de vida, mas sem tempo para deixá-la nos envolver.
Não há tempo para a raiz dos afectos. Afectados que somos pela urgência que a pena do tempo teima em escrever. Corremos em direcção a alguma coisa que parece inalcançavel, mas que nos acorda de manhã e finge que nos impulsiona a viver.
Somos afagados pelos elogios insanos que inflamam o desejo de ser, mas que afinal são tão efémeros como o tempo que não tem pena da pena que escreve sem saber.
Surpreende-me sempre este mês de Agosto, pois entre o bronzear da pele, a respiração compassada e profunda de quem para um bocadinho, continua o vazio quieto, a espera para tentar de novo prevalecer.
Agosto faz-me lembrar de pausa. Mas pausa de quê se a ansiedade continua latente e as prateleiras a nossa volta continuam a oferecer sonhos enlatados e esperança topo de gama?
Olho o oceano de novo e as ondas que tocam suavemente a areia da praia. É fim de tarde e uma brisa suave sopra de mansinho. O sol aos poucos vai cedendo lugar ao encanto do anoitecer. Meu coração se enternece só de pensar que mãos eternas desenharam esta paisagem. É verdade, este encanto já cá anda há tanto tempo e quase nem percebemos que a Fonte de Vida passeia pela arte por Ele mesmo pintada. As vidas que por aqui tem passado, são como nuvens que vem e logo se dissipam, mas Ele nos presenteia com Graça, não aquela que se expõe nas prateleiras da vida, prontas para consumo, mas a Graça que alcança a raiz dos afectos, o coração do homem e derrama vida… eterna.
Falta-nos ver.
Arlete Castro
Agosto - 2009
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