Sunday, July 25, 2010

Além da Liberdade




"Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada." Clarice Lispector


Sim, eu quis ser livre.
olhei o mundo que dantes só via através duma fresta
moldado pelo limitação de um parapeito

e fui embora
deixei o medo covarde e saí dali pra fora…

Mas cedo percebi a sedução
da tal liberdade palpável
que me despertava a emoção

mas que não me dava asas
e era aquém do que eu imaginava


Descobri até nos sonhos meu limite

moldado pelo inconsciente aprisionado

desejoso apenas do que consta verdadeiro

tal qual o parapeito da janela no passado

que buscava seu sentido
no esvoaçar de um cortinado.

Por isso não nomeio o que desejo

hoje ele vai além da liberdade que tive

e descobri tão limitada,

concreta demais para preencher

esse querer que me transcende…

Assim quero uma verdade que se invente

e produza algo mais que coragem

de viver para além de uma janela

mas ultrapasse e se construa sem limites…

tal qual a chama que consome a vela.

Arlete Castro
Portugal

Friday, July 16, 2010

Camuflada


"O Poeta é um fingidor. Finge tão completamente que chega a fingir que é dor... a dor que deveras sente" Fernando Pessoa



É tão complexo meu fingimento
Que se quer vejo a verdade que ele esconde
Tão disfarçada e atarefada
Em aquietar meu peito e refazer o leito delator

É tão vincada a dor que agora sinto
Que confundo-a com meu nome
Engano e finjo que a dor sou eu
Enquanto forjo versos repletos de paixão
Que sem a dor são apenas rimas
Onde escondo meu coração acelerado
Sem perceber que são meus versos
que me revelam fingidor

Confesso um sonho inacabado
Sou capaz de despertar a emoção
Danço conforme a inspiração
Faço versos, descrevo meus sentidos
Mas a dor que deveras sinto
Continua aqui…
camuflada em ilusão.

Arlete Castro
Março de 2010

Inexplicável


"Explicar a manhã é anular-lhe e apagar todo o silêncio que existe na poesia". (Sandra Costa)

É verdade
Não há como explicar o amanhecer
Porque por mais que lhe descreva a luz
Falta palavras em meu poema

Para revelar o quanto seu brilho seduz.

Se descrever as últimas gotas do orvalho

Ou o canto dos pássaros ao redor

E a noite que dá lugar ao dia
Limito a beleza a dimensão que vejo
E corro risco de ocultar

O esplendor que dele se irradia
.

Posso falar da chuva a brincar com o arco-íris

Ou dos primeiros raios de sol à beira-mar
Mas por mais que procure não encontro

Uma maneira certa de explicar…

Deixo então que a poesia

Oculta nas palavras que escrevo

Traduza em silêncio, a ousadia

Da beleza que transborda de manhã

Esperança que renasce em mais um dia

Vestida de sons cores,

Pura poesia…


Arlete Castro

31.03.2010