Era pequenina ainda e já brincava com as letras. Gostava de juntá-las e transforma-las em versos de menina. De rimas não sabia, mas sabia que as palavras não eram um ajuntamento de letras. Eram encanto, poesia, prosa...
Thursday, December 31, 2009
GRATIDÃO
GRATIDÃO
Nestes últimos dias do ano,
resolvi erguer-me
fui ao encontro do meu coração
que aos meus olhos parecia cansado,
atarantado sem saber gerir as emoções ali contidas,
cicatrizado, e pulsando forte
revelava-se muito mais que um órgão vital,
era a mistura natural entre o sangue que me dá vida
e os afectos que são gerados nas entranhas da alma
e que afloram cá pra fora e explodem nas veias
no rubor da face, nas lágrimas que rolam abundantes,
no sorriso vincado…
num dado momento, encontrei-me escondida
sentada num canto qualquer.
a esperança era a parceira de sempre
mas o verde estava um pouco desbotado.
havia máscaras caídas aqui e ali,
e uma caixa de memórias que pulsavam
no mesmo ritmo do coração…
e nos olhos do eu que se mostrava,
por trás do castanho natural
havia pequenas nuanças do brilho que a eles pertencia.
e tal qual janela da alma contemplavam,
o ano novo prometido
renovo do tempo, das estações, da vida
Futuro…
Vasculhei a caixinha de memórias
eram tantas!
algumas cheiravam à maresia, outras
temperadas de alegria e tristeza,
adeus, saudades e boa companhia
brilhavam tal qual tesouro…
meu tesouro.
escrevi “Gratidão” numa folha de papel.
rendi-me diante do Senhor entronizado
que do trono do meu coração acelerado
acolheu as emoções ali contidas
e fez-me descansar
a espera do novo ano prestes a chegar…
Arlete Castro
31.12.2009
Monday, December 28, 2009
Acordos
Arlete Castro
São dois solos
um de um azul sutil
e o outro verdejante gentil
o primeiro desbravou o mar
e venceu Adamastor*
enquanto o outro foi a conquista
terra a perder de vista
sonho de Imperador.
Um canta o privilégio de heróis
que desenharam mundos novos ao mundo
o outro canta deitado,
eternamente em berço de esplendor
enquanto as suas ruas, nuas…
esperam o seu favor.
Um trouxe na bagagem a língua
o outro a língua aprendeu
e moldou-a ao seu gingado
e agora faz de conta que o idioma é seu.
O primeiro canta o fado,
a canção triste que o elegeu
o outro samba e faz poesia,
escreve histórias
e perpetua as memórias
na língua que o acolheu.
E entre o gerúndio falado
em cada contínua acção
muda o outro o verbo atado
ao estar que auxilia na expressão,
dando ao infinitivo
a devida projecção.
E moldam o seu falar
cada qual com seu requinte
tentam acordos, fazem sena
discutem sobre o Trema,
dispensam o “p” e o “c”
das palavras onde se escondem
e entre circunflexos e agudos
não sabem se vale a pena.
Enquanto que a língua tem asas
e voa tranquila e serena
de um lado tem cor tropical
do outro parece formal,
mas no fundo é senhora
recusa-se a parar a história
está nos relvados do mundo,
na Garota de Ipanema,
no Nobel de Literatura
e nas telas de cinema.
E se é pronuncia ou sotaque
na verdade não sei
mas é língua de poetas
de épicos e canções
e se o poeta está certo
é “a última flor do lácio
inculta e bela!” **
expressando a Cultura,
gestos e maneiras
de muitas gentes
precioso legado
ao mundo deixado
tal qual viva semente.
* Alusão aos Lusíadas num dos cânticos quando o herói colectivo enfrenta Adamastor, o gigante dos mares.
**Olávo Bilac
Tuesday, December 15, 2009
Thursday, December 3, 2009
Pôr-do-Sol
Quando andar em busca de compreensão,
Pare e olhe para este chão
Há sementes a brotar por todo lado
Vê?
Elas aparentemente morrem
E quando menos a gente espera
Brotam…
Dão à luz ao verde que te encanta o olhar.
Quando tentar entender o porquê
Observe,
Nem tudo é como a gente vê
O que para uns é um dia que se finda,
Levando a esperança de solução
Para o outro é Pôr-do-Sol,
Paisagem desanhada no horizonte
Fonte de alegria e contemplação.
Quando quiser compreender
Olhe essa gente a sua volta
São rostos perdidos na multidão
São carne, osso e semente
Alguns andam sorridentes
Outros vertem lágrimas e vão
Em busca do ganha pão.
Aparentemente sem nome
Alguns fartos outros com fome
Transbordando vida
Que vai além da compreensão.
Quando não houver respostas
Olhe para esses pequeninos tão perto
São o futuro desenhado em miniatura
Renovando a esperança num sorriso
Fazendo brotar vida de novo
Num mundo que precisa de riso.
Quando não entender
Erga os olhos pra ver
É o Pôr-do-Sol
Que desenha Graça
Durante o entardecer.
Arlete Castro
03.12.2009
Sunday, November 1, 2009
Às Muheres Aglow
mas fez-se homem a partir do ninho interior
de uma delas
que o amamentou nos seus peitos
em momentos de carinho
Deus não tem mulher
mas sabe a massa de que são feitas por dentro
e por isso as ama ainda mais
Deus não tem mulher
mas procura a sua intimidade
não dispensa o seu colo
o seu regaço incerto
o seu coração apertado
Deus não tem mulher
mas preferiu-as no seu gesto criador
fazendo delas fábricas de vida e ternura
onde fez repousar a sua gentileza
Deus não tem mulher
mas fez delas a peça que faltava no puzlle masculino
Deus não tem mulher
mas chamou-as a habitar todas as esquinas da História
Deus não tem mulher
mas trabalha para que todas as mulheres o desejem com ardor
Deus não tem mulher
não tem uma mulher, tem muitas
todas as Marias, Susanas, Lídias e Vitórias
Isabéis, Manuelas, Rutes, Saras, Fernandas
Josefinas, Luísas, Anas, Joaquinas
Carolinas, Martas, Antónias
e até Madalenas
todas as que queiram abrigar-se
nos seus braços de segurança e amor.
Brissos Lino
Outubro de 2009
Tuesday, September 22, 2009
Que Pena do Tempo!
Que Pena do Tempo!
Se o tempo tem pena
que vai e que vem
escrevendo a historia
sem esquecer ninguém,
Então desperta a mocinha
que não sai da janela,
antes que a pena do tempo
passe antes da banda
nas ruas da vida dela.
Consola a senhora
que chora sozinha
e mostra-lhe memórias
que nem a pena do tempo
pode apagar da sua história
Lê no rosto singelo
do homem que é velho,
as marcas que ao tempo
pensou pertencer
mas que falam de amores,
de sonhos e dores
e de uma vida
que vale a pena viver.
E conta ao poeta
que o tempo tem pernas
que as vezes anda
outras vezes espera,
mas que os versos que escreve
tem asas que o tempo
não pode deter
pois eternizam o amor
que doeu em mim
e exalou de você.
Tem pena da pena
com começo e fim
e mostra-lhe a letra
escrita por ela
eternizando o momento
que o tempo levou
cravando pra sempre
em letra eternas
alegrias e sonhos
e tempos de dor
as suas histórias
e os seus contos de amor!
Arlete Castro
Agosto de 2009
Tuesday, September 8, 2009
Plantio
.
Co-autores – Arlete Castro e Mauro Veras
.
.
Brincar com palavras desde sempre
nos temas presentes na existência
buscar a gema preciosa do vocábulo
sua essência, em campos abandonados
fluir em inspiração e lapidar
os caminhos e seus encantos ...
eis a sina que carrego comigo.
No abrigo de um caderno amarrotado
que trago na mente
nas mãos, através dos dias
o mundo além dos traços denuncia
o cotidiano como tela
nem sempre macia,
nem sempre de pedra,
mas a vida eternizada
como fosse uma aquarela.
E entre formas e reformas
a linguagem da alma se conforma em versos
E quem bebe desta água sequer desconfia
que os dedos que tecem e fiam minha lavra
são os mesmos que acariciam o desespero
e seus medos, conformando a dor em magia.
Brincar com palavras enquanto passam os dias
destravar as aldravas
abrir a janela da alegria
fazer do tempo que caminha devagar
algo mais do que a rotina que me prende
semear a terra árida que transcende sua aridez
e transpira na alma a semente que se faz poema
e caminhar e transcender ...
e renascer poesia.
.
.
Arlete Castro & Mauro Vera
Maio de 2009
Monday, September 7, 2009
Gigante Menino
Gigante Menino
Era gigante o menino
Há muito que não o via.
Pensei encontrá-lo
Em berço esplendido deitado,
Mas quando o vi
Estava ferido, cansado...
A casa era a mesma
Rodeada de palmeiras,
Cheiro à maresia,
Poetas e boa companhia.
Mas o menino chorava.
Sentia saudades do sabiá
Que dantes gorjeava por cá.
Do brado heróico do seu povo
Que cessou de ecoar
Porque teme a morte
Que invade morros, cidades...
Atropela a sorte,
Aterra na segurança do solo
E não pára, explode...
O gingado era o mesmo.
Popular trilha sonora da sua história,
Mas o verde louro da sua flâmula,
Perdeu a fama, desbotou...
E o ouro, amarelo legado,
Outro menino roubou.
Cresceu o mulato menino.
Deixou Inocência na favela
E sem tempo,
Trabalha... Batalha...
Engaveta suas mazelas
E vai sambar...
Continua belo
O gigante menino
Adornado por um céu
Ainda risonho
Aonde a lua vem brincar.
Ele acredita, tem fé na vida.
Enxuga as lágrimas
Na esperança verde do relvado,
E ecoa um grito guardado
É apenas um menino
Que não desistiu de sonhar...
Arlete Castro
Agosto de 2007
Monday, August 31, 2009
Escuridão
Num momento a luz se desfez
as trevas densas decretaram escuridão
e na presunção de quem quer prevalecer
o breu assentou pedras e argamassas
para impedir a luz de renascer...
E a multidão como cegos se tornaram
tateando entre paredes invisíveis
e caminhando sem saber se havia chão.
ou qualquer saída para tal desolação.
E como a cegueira ensaida do escritor (*)
sem ver, cada um tentava o seu favor
nem coração e nem paixão os inspiravam
e a religião não consolava o estupor
que a escuridão impunha, revelando toda dor.
Buscavam meios de encontrar uma saída
cada um em busca de si mesmo
enquanto no escuro
de uma eterna noite sem estrelas
o pior e o melhor deles aflorava
despindo a emoção que incomodava.
Até que a escuridão tornou-se um hábito
Ninguém via, mas já não importava
aprenderam a viver na solidão
e esqueceram a claridade
habituados que estavam à escravidão.
E quando luz finalmente resplandeceu
Era tão forte e estonteante que brilhava
e ofuscava olhos cansados de não ver
mas que preferiam continuar cegos
do que deixar a luz prevalecer.
Afinal era mais fácil a servidão
do que a rectidão
que a luz lhes revelava
mudar o rumo e deixar cair a escama
e renascer das densas trevas
que escondiam toda lama.
Mas para quem acreditou que a luz era possível
um Caminho dantes quase inatingível
se revelou renovando a esperança
mostrando das trevas toda a devassidão
e da luz toda a sua imensidão.
"Nele estava a vida e esta era a luz dos homens. A luz brilhava nas trevas, e as trevas não a derrotaram". (João 1:4,5)
Arlete Castro
29/08/2008
(*) Alusão ao "Ensaio sobre a Cegueira" de José Saramago
Thursday, August 27, 2009
Agosto
Surpreende-me este mês. Olho ao redor e vejo o sol a bilhar em toda parte e este ar de descanso no rosto de muitos, que vem com as férias de verão.
As praias por sua vez estão repletas de gente. O mar vai se achegando na encosta, banhando com suas aguas, ora fresquinhas, ora geladas, o corpo e os sonhos da gente. Faz sorrir a criança pequena e ri também de certeza, das peles bronzeadas ao sol, das gordurinhas a vista, do viver em família, dos amores, da solidão e daqueles que estão a andar por ali apenas pelo ganha pão.
Mas não ri como se zombasse. Porque ele já cá anda há tanto tempo, que penso que ele ri como se também brincasse, com esta gente que vem e que vai, aproveitando o calor destes dias efémeros, como suas ondas que vem e que vão.
E porque é Agosto, mês em que tudo fica um pouco vazio, é que olho o vazio que passa despercebido por nós, na correria dos dias, na azáfama de prevalecer, encontrar espaço, fazer…
E vamos, a medida que a correria se estabelece, tentando preencher este vácuo em busca da fonte de vida, mas sem tempo para deixá-la nos envolver.
Não há tempo para a raiz dos afectos. Afectados que somos pela urgência que a pena do tempo teima em escrever. Corremos em direcção a alguma coisa que parece inalcançavel, mas que nos acorda de manhã e finge que nos impulsiona a viver.
Somos afagados pelos elogios insanos que inflamam o desejo de ser, mas que afinal são tão efémeros como o tempo que não tem pena da pena que escreve sem saber.
Surpreende-me sempre este mês de Agosto, pois entre o bronzear da pele, a respiração compassada e profunda de quem para um bocadinho, continua o vazio quieto, a espera para tentar de novo prevalecer.
Agosto faz-me lembrar de pausa. Mas pausa de quê se a ansiedade continua latente e as prateleiras a nossa volta continuam a oferecer sonhos enlatados e esperança topo de gama?
Olho o oceano de novo e as ondas que tocam suavemente a areia da praia. É fim de tarde e uma brisa suave sopra de mansinho. O sol aos poucos vai cedendo lugar ao encanto do anoitecer. Meu coração se enternece só de pensar que mãos eternas desenharam esta paisagem. É verdade, este encanto já cá anda há tanto tempo e quase nem percebemos que a Fonte de Vida passeia pela arte por Ele mesmo pintada. As vidas que por aqui tem passado, são como nuvens que vem e logo se dissipam, mas Ele nos presenteia com Graça, não aquela que se expõe nas prateleiras da vida, prontas para consumo, mas a Graça que alcança a raiz dos afectos, o coração do homem e derrama vida… eterna.
Falta-nos ver.
Arlete Castro
Agosto - 2009
todos os direitos reservados
Saturday, August 1, 2009
A Flutuar na Graça
Monday, July 13, 2009
Poema escrito depois da leitura de "Feridos em Nome de Deus" de Marília de Camargo César" Leitura que recomendo.
Feridos
I Acto
sou como um andarilho.
maltrapilho, busco encontrar
o Caminho por onde andei.
meu coração pulsa no peito acelerado,
atrás do escudo que esconde a cicatriz
e disfarça enquanto junta os pedaços
do eu dilacerado,
que se alimenta esfomeado
da decepção que me corre nas veias.
teia que me prende a uma dor sem nome,
mas que me consome e faz ofuscar
a luz que dantes até me fez voar.
a minha alma transborda à sangue derramado
mas oculto pela incerteza
de quem confiou a vida e o coração
ao homem por Deus designado,
apaixonado por soberana vocação.
que ilusão!
II Acto
sou também um andarilho
maltrapilho, busco encontrar
o Caminho por onde andei.
ultrapassei limites.
pensando que cuidava... centralizei.
confundi poder com unção,
zelo com manipulação... abusei.
meu coração também bate acelerado.
as minhas marcas se prendem a solidão
das sombras que norteiam minha alma,
cansada da minha própria insensatez.
vou peregrino nesta estrada que conheço,
peso meus passos atordoado
por tamanha embriagues.
atrás de mim deixo um púlpito vazio
e o desejo de acertar uma outra vez.
III Acto
ouço o clamor dos teus lábios.
vejo o escudo que esconde a cicatriz
e os pedaços da tua vida,
decepção que incendeia
e semeia dor, ofuscando a minha luz.
olha pra mim...
vejo ainda o teu eu dilacerado
perdido no Caminho que conheces
e a unção guardada num pote aí ao lado
enquanto olhas para traz atarantado
sem ver que a tua frente, há o vazio da minha cruz.
olha pra mim...
levantem do lugar onde caíram
vejam a graça que transborda das minhas veias
teias de amor que acolhem toda dor,
a chave certa pra qualquer encarcerado
perdão completo, boas novas...
vida plena em seu favor.
prestem atenção ao Caminho
tirem as pedras que engessam a sua estrada
partam o pão da comunhão que lhes é dado
bebam do vinho da alegria e celebrem
em cada canto, em cada casa
sou eu em vós... o livramento.
Arlete Castro
10.07.2009
Thursday, July 9, 2009
Poema Baseado na Obra de Sergio Fingermann "Elogio do Silêncio" exposta no Museu Oscar Niemeyer em Curitiba e que tive oportunidade de visitar
Silêncio
Ontem ouvi o silêncio
Ele não dizia palavra
mas dançava...
ao meu redor rodopiava
e soprava-me ao ouvido
um gemido...
Ontem o silêncio bailava
ao som de uma música
que só ele ouvia
e dissipando meus sons
com suas mãos
tocou o compasso
acelerado do peito
e sussurrou-me ao ouvido
aquietai...
Transformou-se num verbo
o silêncio
flutuando entre barulhos reais
calou a voz do tempo apressado
e aos meus apelos fez sinais
E o silêncio sábio
emudeceu a palavra vã
vestiu-se de arte
emoldurou-se
e me encontrou a alma
o meu eu feroz e ocupado
fragmentado
encolhido atrás do peito
mas com vontade de voar
Ontem meu eu dançou com o silêncio
criou asas...
reaprendeu a voar.
Arlete Castro
19.06.2009
Tuesday, February 24, 2009
Volúvel Pós-Modernidade
Volúvel Pós-Modernidade
Tu que andas por aí
perdida em emoções que não conheces
vê se cresces
porque descrente,
tu vais te tornar ainda mais doente
ao transformar o outrora singular
em plural que se vende
e mente sem nunca se encontrar.
Tu que és fruto
do que dantes foi moderno
és cidadã do mundo,
não tens pátria
nem pertences,
arrebata e vais em frente
sem sequer saberes andar.
Vilã e heroína,
vais te perdendo em cada esquina
nas prateleiras de ofertas repentinas,
que te levam ao afã de consumir
e gerir o teu destino
oh! que desatino!
que vontade de voltar
e ir ao encontro do lar!
Volúvel,
Tu te entregas
aos prazeres do momento
enquanto choras
no teu quarto escondida,
máscaras da vida
que te deram pra usar.
E a medida que secularizas a ferida
tu te negas e arrebatas
dizes que és livre e intocável
mas caminhas solitária
finges até saber voar,
enquanto teus pés desprotegidos
pisam o solo efêmero
da tal pós-modernidade
que só tem idade pra o midiático*
dar-te a desfrutar.
Menina,
então não vês
que o que desejas é o abrigo
e o aconchego
de quem te proteja do perigo,
porto seguro e referência,
um colo amigo
que toca a alma e emoção
e mostra-te,
para além do vento passageiro,
que, corriqueiro,
só faz calar coração?
Perdida,
volta para o lugar de onde saíste,
estás cansada,
embriagada deste mundo,
que de tão fundo
não te deixa respirar.
Vem, que há um Caminho a tua espera,
há uma saída para tua solidão,
abranda esse século acelerado
e deixa aflorar ternura e acalanto,
enquanto mãos eternas
enxugam o teu pranto...
Arlete Castro
Portugal
Janeiro - 2009
Era um dia qualquer
chovia tanto que apetecia ficar
mas o quotidiano impunha-se
ele nos apressa a trabalhar
Era uma manhã sem muitas cores
e eu conduzia devagar
o frio arrepiava a emoção
que calada esperava
para poder me despertar.
Eram notas soltas no ar
de uma canção que eu nem ouvia
enquanto me perdia
entre gente ocupada,
apressada, sem ver…
e a chuva não perdoava
alagava as ruas,
e calava a sensação
de que muito mais havia
do que apenas a sinfonia
das gotas de chuva
inundando meu chão.
Era tudo muito igual
até que num instante
o sol mostrou sua cor
e no meio da chuva fria
sorriu-me um bom dia
e um arco-íris
em sua tela pintou.
Era um toque de Deus
mostrando seu esplendor
transformando um dia qualquer
na certeza do cuidado
de cercar com sua presença
o meu dia a dia cansado.
Sorri de volta pro sol
enquanto orava baixinho
por reconhecer
que as cores se criam
a cada amanhecer.
Arlete Castro
07 de Fevereiro de 2009
Friday, January 2, 2009
Feliz Ano Novo
Novo Ano
Vem aí um novo ano
Os rumores falam de crise
De novos líderes,
De um mundo global
De sonhos desfeitos
Como num temporal
Eis a Escassez!
Vem aí um novo ano
Os homens falam de planos
Prevêem o futuro
Constroem muros
E prometem paz mundial
falam de sonhos refeitos
e confundem ficção
com a vida real
Pura insensatez…
Vem aí um novo ano
E Deus fala de dependência
soberania e entrega total
Fala de um relacionamento
Atemporal
que faz renascer
comanda circunstâncias
e acalma o vendaval.
Plena intrepidez…
Vem aí um novo ano
E Jesus fala de presença
Mas também de aflição
De vida abundante,
cuidado e protecção.
Cala rumores, previsões
Transforma a vida
Vivida por pura
compaixão
Faz renascer
Sopra o efémero
E mostra um Reino Eterno
Pura lucidez!
E quanto penso em ti
E nessas duas dimensões
Me surpreendo
Tento vislumbrar o espaço
saber onde cabes tão intenso?
Iluminado, ilimitado...
Descubro-O Alfa e Omega
princípio, meio e fim!
e O encontro aconchegado
no meu peito acelerado
morada eterna dentro em mim.
Arlete Castro